Summary: A utilização de plantas com fins medicinais, para tratamento, cura e prevenção de doenças, é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade (VEIGA JUNIOR et al., 2005). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% da população mundial utiliza-se de vegetais na busca de sanar algum tipo de patologia, ainda que, de forma indiscriminada e sem indicação clínica (MARTINS et al., 1995).
A fitoterapia constitui uma forma de terapia medicinal que vem crescendo notadamente nestes últimos anos. Estima-se que do total de medicamentos consumidos hoje, cerca de 40% são de origem natural (CARVALHO, 2009), ao ponto que o mercado mundial de fitoterápicos gira em torno de aproximadamente 22 bilhões de dólares (YUNES et al., 2001), com crescimento de 12% ao ano. No Brasil, segundo a Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (2012) o setor de medicamentos fitoterápicos representa 3% do mercado farmacêutico, movimentando em torno de um bilhão de dólares por ano.
Apesar da grande evolução da medicina alopática a partir da segunda metade do século XX, existem obstáculos básicos na sua utilização pelas populações carentes, que vão desde o acesso aos centros de atendimento hospitalares à obtenção de exames e medicamentos. Estes motivos, associados com a fácil obtenção e a grande tradição do uso de plantas medicinais, contribuem para sua utilização pelas populações dos países em desenvolvimento (VEIGA JUNIOR et al., 2005). Além disso, observa-se também o surgimento de cultivos caseiros e de novos usuários, havendo necessidades de orientação à população (BORBA e MACEDO, 2006).
Dentro desta perspectiva, esperar-se-ia que o Brasil fosse um país privilegiado, considerando sua extensa e diversificada flora, detendo aproximadamente um terço da flora mundial. Entretanto, o país não tem uma atuação destacada no mercado mundial de fitoterápicos, ficando inclusive atrás de países menos desenvolvidos tecnologicamente (YUNES et al., 2001).
Neste contexto, a farmacologia e a toxicidade de plantas e produtos utilizados na medicina alternativa têm recebido a atenção da comunidade científica para a verificação de suas propriedades farmacológicas e/ou terapêuticas, e também para a investigação de suas possíveis atividades toxicológicas, principalmente no que se refere a mutagenicidade e citotoxicidade (REBECCA et al., 2002), visto que populações tradicionais recorrem ao uso de espécies vegetais como principal alternativa terapêutica (BORBA e MACEDO, 2006).
Desde a década de 70, a OMS vem estimulando os países em desenvolvimento a realizar pesquisas para avaliar o potencial de suas plantas medicinais, e transformá-las em medicamentos eficazes e de custo acessível à população. De fato, para o emprego dos produtos de origem vegetal pela medicina oficial, é necessário que eles preencham os mesmos requisitos mínimos de eficácia, segurança e controle de qualidade, exigidos para os produtos sintéticos, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Além disso, poucas são as informações sobre o comportamento das plantas medicinais quando submetidas às técnicas de produção agrícola, visto que vários fatores podem afetar sua biomassa e a produção de metabólitos (YUNES e CALIXTO, 2001; SIMÕES et al. 2003). Apesar de os estudos relacionados ao cultivo, manejo e produção de plantas medicinais não serem tão abrangentes e popularizados como é o das plantas cultivadas, cada espécie medicinal, aromática ou condimentar, tem suas exigências e respondem de maneira diferenciada para diferentes níveis de agentes bióticos e abióticos, de maneira a refletir nos seus constituintes químicos, principalmente oriundos de seu metabolismo secundário (SIMÕES et al., 2007; SOUZA et al., 2012), o que pode refletir diretamente em sua ação terapêutica. De fato os metabólitos secundários representam uma interface química entre as plantas e o ambiente circundante, portanto, sua síntese é frequentemente afetada por condições ambientais (NETO; LOPES, 2005).
Muitas espécies de plantas de vários países já foram submetidas aos estudos de validação, e suas ações farmacológicas e toxicológicas foram confirmadas. Já outras espécies, apesar de contarem com o amplo emprego por determinadas populações, além de não ter seus efeitos confirmados, ainda apresentam toxicidade.
Bidens pilosa L., planta prioritária na Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS) e conhecida popularmente como picão preto, é uma erva daninha cosmopolita originária da América do Sul. Goza de notada importância pelo seu valor medicinal, sendo utilizada, principalmente, para o tratamento de inflamações, hepatite, analgésico, diabete, enterite, disenteria, cólica, faringite, diurético, antirreumatismo, antialergênico, anticancerígeno, entre outros (ARTHUR et al., 2012; BRANDÃO et al., 1998; VALDÉS e REGO, 2001; GEISSBERGER et al., 1991; ALVAREZ et al., 1999; BRANDÃO et al., 1997).
Dentre as atividades farmacológicas testadas até o momento, foram relatadas sua eficácia na atividade imunossupressora, anti-inflamatória, anti-hiperglicêmica, antimicrobiana, antifúngica, no tratamento de desordens gastrointestinais, potencial contra a leucemia e malária, bem como potente citotoxicidade, efeitos antiploriferativos contra várias linhagens celulares e a ausência de mutagenicidade em sistema teste in vitro. Além disso, alguns estudos demonstram sua importância agronômica, devido as sua ação alelopática e contra fitopatógenos (ABDOU et al., 2010; TAGAMI et al., 2009; ANDRADE-NETO et al., 2004; ALVAREZ et al., 1999).
Apesar de possuir inúmeras propriedades medicinais comprovadas, estudos científicos que relacionem a farmacologia e os metabólitos secundários de B. pilosa às suas características de manejo, tais como adubação e irrigação, e aos seus potenciais efeitos antioxidantes, antimutagênicos e mutagênicos, por meio da avaliação em sistema teste in vivo, ainda são escassos, mas extremamente cruciais para a sua produção em massa e padronizada para o fornecimento de material bioativo de alta qualidade e com segurança para a indústria de fitoterápicos.
Tem sido demonstrado que a mutagênese tem um papel especial na fase de iniciação da carcinogênese. Nela, a substância que atua sobre o DNA pode ser um agente, por si só, mutagênico ou pode ser um produto de um processo metabólico, que normalmente deveria ser inativado ou eliminado (BUNKOVA e MAROVA, 2005).
Os estudos de mutagenicidade e citotoxicidade constituem um passo importante na avaliação toxicológica dos medicamentos de origem vegetal ou sintética onde podem estar presentes compostos mutagênicos relacionados com o desenvolvimento do câncer. Dentre os testes de avaliação de mutagenicidade e citotoxicidade preconizados pelas agências internacionais e instituições governamentais, a avaliação da freqüência de micronúcleos em medula óssea de roedores in vivo tem emergido como um dos métodos preferenciais para a avaliação dos danos cromossômicos, pois permite medir a perda (evento aneugênico, devido a disfunção do aparato mitótico, provocando alterações na distribuição dos cromossomos durante a divisão celular) e a ruptura (evento clastogênico) de cromossomos de forma confiável (FENECH, et al., 2005), além de ser amplamente aceito e recomendado para avaliação e o registro de novos produtos químicos e farmacêuticos que entram anualmente no mercado mundial (CHOY, 2001; RIBEIRO, et al., 2003).
O teste do micronúcleo em roedores visa detectar e quantificar a ação mutagênica de agentes indutores físicos ou químicos (MACGREGOR, 1987; RABELLO-GAY, 1991). Esse ensaio apresenta algumas vantagens em relação aos outros, entre as quais podem ser citadas sensibilidade, custo, confiabilidade e rapidez na execução, além de ser especialmente relevante, pois permite a consideração de fatores como: a absorção (SEI-ICHI e ISAO, 2001), o metabolismo in vivo, a cinética do fármaco e o processo de reparo do DNA (KRISHNA e HAYASHI, 2000) o que dificilmente poderia ser reproduzido em ensaios in vitro.
Esse teste pode ser executado praticamente em qualquer população de células que esteja em constante divisão, sendo a medula óssea de mamíferos uma das regiões mais adequadas, visto que suas células levam de 22 a 24 horas para completar um ciclo de divisão (HEDDLE, 1973; FAGUNDES, 2005).
Em geral, esse bioteste permite deduzir que se o determinado agente está afetando o material genético do organismo teste, possivelmente apresentará toxicidade genética em qualquer tipo de célula já que o código genético é universal (ALBERTS, 2004).
Nesta pesquisa iremos avaliar a influência da adubação e da irrigação no desenvolvimento e na produção de biomassa e de metabólitos secundários de Bidens pilosa L., bem como relacionar as condições de adubação e irrigação com o potencial citotóxico, mutagênico e antioxidante do extrato hidroalcoólico, produzido a partir dessas plantas.
Starting date: 2013-07-01
Deadline (months): 24
Participants:
Role | Name |
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Coordinator * | Maria do Carmo Pimentel Batitucci |
Student Doctorate * | IRANY RODRIGUES PRETTI |
Student Doctorate * | ANNY CAROLYNE DA LUZ GROLA |
Student Doctorate * | JULIANA MACEDO DELARMELINA |